1986 - Museu Couros de Formosa


História do Museu Couros - por Leônidas Pires e Samuel Lucas

No final da década de 70, mais precisamente no ano de 1979, vendo que não existia na cidade de Formosa nenhuma entidade ou mesmo alguma pessoa que defendesse a cultura do nosso povo, um jovem idealista de nome Leônidas da Silva Pires ou simplesmente Léo, convidou cinco amigos de sua confiança (Levir, Amélia, Alcides, Gilma e Galdino) para iniciar um movimento com a finalidade de divulgar e incentivar a arte e a cultura local. Fundou-se então o Clube Espaço Cultural de Formosa, entidade reconhecida nacionalmente através do seu CGC (CNPJ).


Foi dentro do Clube Espaço Cultural que surgiu a ideia de criar em Formosa um Museu e, mais precisamente no ano de 1984, Léo, fundador e presidente do Clube Espaço Cultural, traçou os planos da execução do projeto.

Léo, que era aeroviário da extinta TRANSBRASIL, na época trabalhava em Brasília, o que possibilitava sua vinda a Formosa em todos os finais de semana, porém tal fato não servia de obstáculos, pois nos finais de semana tinham reuniões e aquilo que era decidido os moradores daqui faziam acontecer durante a semana.

Em 17 de abril de 1985, através da Lei nº 37-J, o então prefeito José Saad foi autorizado a doar uma área de 6.000 (seis mil) metros quadrados destinada para a construção da sede social do Clube do Espaço Cultural. Na verdade, na efetivação da doação, foram doados 2.000 (dois mil) metros quadrados ao lado da Creche Rainha da Paz, na Lagoa do Santos.

Ainda no ano de 1985, a extinta TRANSBRASIL transferiu o nosso amigo Léo para Aracaju, capital do estado de Sergipe, ficando lá até 1988, tempo em que, no tocante à ideia da criação do museu, todos os projetos ficaram parados.

Apesar da decepção e do tempo que passou, o jovem idealista Léo não desistiu do sonho e, com a certeza de que o um museu era importante para a memória cultural do nosso povo ele próprio afirmou: "De hoje em diante o museu passa a ser uma questão pessoal e vou fazê-lo nem que seja sozinho".

Assim sendo, no final de 1988 Léo começou um peregrinar pelas ruas da cidade, visitando famílias tradicionais no sentido de conseguir um simples objeto que ajudasse a contar a história de nosso povo. O impacto da ideia não foi bem recebido por essas famílias e, objetos praticamente jogados fora, passaram a ter muito valor e nunca eram doados, restando apenas a opção de comprar. Desta forma, 99% do acervo do Museu foi comprado.

Em 26 de novembro de 1990, através da Lei 94-JP, o então prefeito Jair Gomes de Paiva concede uma ajuda em dinheiro no valor de Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) a serem aplicados para a construção da sede própria do Clube Espaço Cultural. A sede foi construída e, após perder o seu sentido, foi devolvida para o município de Formosa, conforme a Lei nº 197/08, de 26 de agosto de 2008, época em que o então prefeito Clarival de Miranda foi autorizado a pagar o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) pelas benfeitorias do local. (Em nossa pesquisa não conseguimos apurar quais valores foram pagos destas leis citadas neste parágrafo)


Foi-se passando o tempo, sendo então que no início de 1996, sentindo que o acervo era suficiente para iniciar um modesto Museu, começando então o trabalho de organizar, limpar, catalogar e registrar todo o acervo. Recorreu à Faculdade FECLISF (hoje UEG) para que os alunos de história pudessem auxiliar nessa organização.

Nesta altura dos acontecimentos, o então prefeito municipal Nenem Araújo recebeu uma reivindicação de um espaço físico para a instalação do Museu de Formosa e a resposta foi objetiva:
- Não tem lugar para isso!
Assim sendo, a primeira instalação do museu se deu na residência do próprio idealizador. Na sexta feira, dia 26 de abril de 1996, às 20:00 hs foi inaugurado o Museu Couros com a presença da família, amigos e autoridades locais. 

Na segunda feira, dia 28 de abril de 1996, dia que estava previsto abrir o museu para visitação pública, suas portas foram fechadas por tempo indeterminado, isso porque o Sr. Nenem Araújo, prefeito municipal na época, negara preliminarmente um espaço físico e depois um funcionário. Cabe lembrar que este prefeito ofertou as divisórias quando o Léo disse que montaria o museu na sua residência.

Nesse meio tempo começou um trabalho para dar personalidade jurídica ao Museu e, seguindo uma opinião do Promotor de Justiça, Dr. José Godinho, decidiram por abrir uma Fundação. Foi o próprio promotor que trouxe de Goiânia os modelos de estatutos e instrução de como criar.

O outro impasse foi mediante o patrimônio, pois uma Fundação se cria através de um patrimônio...
- Você tem coragem de doar o acervo do museu como patrimônio? Pergunta o promotor para o Léo, que prontamente aceitou o desafio e, após um longo trabalho de catalogação, inventário e escrituração pública do acervo, foi então criada a Fundação Museu Couros de Formosa - FUMUC.

Cabe lembrar que o processo de escrituração contou com a ajuda do nobre advogado Dr. Arnoldo Ribeiro da Costa que, ainda quando foi da criação do Clube do Espaço Cultural de Formosa, foi este advogado que também ajudou juridicamente. Com a ajuda do Dr. Arnoldo, em pouco espaço de tempo o Léo levou a escritura lavrada no Cartório de Clarival de Miranda. 

Nesse momento, vê-se que quando o promotor trouxe modelos de estatutos, não acreditava na capacidade de que essa fundação realmente surgisse e então uma grande delonga de "faz não faz" onde tudo o que era apresentado "estava errado" e esse foi um momento muito difícil. De um lado, a Fundação precisava de um endereço e sede própria, mas o município só podia doar o espaço após a efetivação da fundação como Pessoa Jurídica. Esse lenga-lenga todo levou muitos meses para ser resolvido, entretanto no dia 06 de novembro de 1996 saiu o número do CGC-MF (CNPJ).

Durante esse período, mais especificamente em outubro de 1996, o presidente da Câmara e amigo pessoal de Léo, advogado Dr. Marcelo Magalhães abraçou a causa no intuito de conseguir uma antiga casa onde outrora já tinha funcionado a área de exposição dos animais, doada em 1º de Abril de 1953, através da Lei nº 048-A, pelo então prefeito Leônidas Ribeiro de Magalhães para a Associação Rural de Formosa destinado a construção do Parque Permanente de Exposição de Animais e organização da exposição de produtos do município. Essa área que, após a abertura do Parque de Exposição Agropecuária caiu em desuso, passou a funcionar como garagem da prefeitura e, na época estava em estado de penumbra e abandono. Aqui cabe algumas curiosidades: primeiramente, o então vereador Marcelo Magalhães ser descendente do prefeito Leônidas Ribeiro de Magalhães e, enquanto este tentava regulamentar a doação do terreno para uso do museu, seu avô teria doado a mesma área quase meio século atrás.

Aqui temos também a contribuição do então chefe do Departamento de Cultura, senhor Edmilsom Bispo dos Santos que já intentava colocar naquele espaço a Casa de Cultura de Formosa e, ventilada a opção daquele lugar sediar o Museu Couros, com galeria de artes e, possivelmente um teatro, apoiou completamente essa ideia. Apresentada essa ideia, foi totalmente abraçada pelo então prefeito Neném Araújo que endossou a busca pela criação dos projetos de Lei necessários para tal doação.

Aqui então cabe o grandioso trabalho do Dr. Marcelo Magalhães como vereador e que, na época, ainda encabeçava a presidência dessa ilustre Casa de Leis. Em sessão extraordinária, no dia 20 de novembro de 1996, uma sessão que tratou exclusivamente de títulos como Utilidade Pública Municipal e doações de terrenos, através da lei nº 227-NA, a Fundação Museu (dos)* Couros de Formosa - FUMUC é declarada de Utilidade Pública Municipal e no mesmo dia, através da lei nº 232-NA, o prefeito municipal faz a doação da área supracitada para a Fundação Museu Couros de Formosa.
*Erro de digitação na lei. O nome correto é FUNDAÇÃO MUSEU COUROS DE FORMOSA e na presente lei está como FUNDAÇÃO MUSEU DOS COUROS DE FORMOSA.

Como podemos perceber, o Museu Couros passou por diversos momentos de decepção e, como uma verdadeira sina, após receber o direito do terreno, ao chegar no cartório do 1º Ofício de Notas para lavrar a escritura, a prefeitura não podia escriturar o que havia doado à Fundação pois, por falta de conhecimento da Lei de Permuta 048-A/53, aquele terreno continuava por direito do então Sindicato Rural de Formosa. Na verdade, se houvesse alguém para recorrer à luz da Lei assinada por Leônidas Ribeiro Magalhães, aquele terreno voltaria facilmente à municipalidade, entretanto, na época foram buscar a ata que transformava a Associação Rural de Formosa em Sindicato Rural de Formosa e, por sinal, essa ata não existia ou não foi encontrada.

Nessa altura do campeonato, estava certo de que era impossível receber a escritura antes do final do mandato do prefeito Neném Araújo e Léo recorreu a um amigo e vice prefeito eleito, professor Edson Spíndola, contando toda a história. Quis o destino que, nesse exato momento da conversa, chegasse na casa do professor Edson o irmão do prefeito eleito e que seria o futuro secretário de finanças, Sr. Anésio de Paiva que afirmou juntamente com o vice prefeito que a entrega daquela casa continuava garantida mesmo no outro mandato.

Ao sair da casa do vice-prefeito eleito, prof. Edson Spíndola, estava convicto de que mais cedo ou mais tarde aquele imóvel seria da Fundação e, ao voltar ao cartório, os tabeliães Antônio Brito Costa e Marcos Brito Costa passaram a orientar como uma forma legal de conseguir o imóvel terem a atitude de abrir um processo judicial comprovando que a antiga Associação Rural de Formosa tinha sido transformada no Sindicato Rural de Formosa.

Aqui cabe um adento importante e mais uma curiosidade, pois nesse ínterim o nosso amigo Léo procura a Prefeitura Municipal e é atendido no departamento jurídico pelo ex-prefeito Dr. Bel. Severiano Batista Filho (Dr. Didi) e este coloca a inteira disposição da Fundação Museu Couros a advogada Dra. Neli Spíndola que é filha do ex vice-prefeito da época professor Edson Spíndola e esse, por sua vez, filho de Sebastião Spíndola de Athaídes, que no mandato de Leônidas Ribeiro Magalhães era o Secretário Municipal (cargo de assessoria direta administrativa do prefeito) e, em momento algum aquela Lei de Permuta 048-A/53 foi lembrada, encontrada ou executada. Outra curiosidade aqui é que, quando Leônidas Magalhães fez a doação legal do terreno à Associação Rural de Formosa, a assessoria foi de Sebastião Spíndola e, quando o neto de Leônidas, Dr. Marcelo Magalhães foi o responsável pelos projetos de leis que doaram o mesmo terreno ao Museu Couros, a neta de Sebastião Spíndola foi escolhida como assessora jurídica. 

Como ninguém recorreu àquela Lei de Permuta 048-A/53, o processo foi muito mais complicado. Foi com a ajuda de Washington Alvarenga, Sinésio Araújo e Jofre Chaves que, como testemunhas, o então Juiz de Direito Dr. Rodrigo bateu o martelo dizendo que realmente a Associação Rural de Formosa teria se transformado no Sindicato Rural de Formosa e, como justificativa, disse que tal ata foi possivelmente queimada em um incêndio que houve na sede do próprio sindicato.

Após essa documentação pronta, Léo foi ao presidente do Sindicato Rural de Formosa, Sr. William Nesrralla e este prontamente foi ao cartório regularizar. Entre idas e vindas, no dia 20 de junho de 1997, exatos 7 meses após a homologação da lei de doação, o então prefeito municipal Jair Gomes de Paiva assina a escritura pública transferindo o imóvel para a Fundação Museu Couros de Formosa.

Vencido esse obstáculo, o próximo seria a reforma desse imóvel e, com novos adeptos à luta pela divulgação cultural em Formosa, o engenheiro Cláudio Thomé fez um amplo projeto que, detalhado tudo, passou à funcionária municipal Juscimara Nova da Costa, que fez o projeto e encaminhou ao Ministério. 

Com a falta de verbas, a Fundação Museu Couros de Formosa concentrou seus esforços para criar na cidade um evento que tinha o propósito de resgatar parte de nossas tradições e cultura e, automaticamente, fosse também uma fonte de renda para tal desafio. Na virada do ano de 1997 para 1998, decidiu-se que o evento seria chamado "Semana da Moagem" e que, objetivando resgatar a cultura, seria apresentado nossas tradições da moagem da cana, fabricação da rapadura, do melado, da puxa-puxa, da batida, do açúcar mascavo e da pinga destilada, tudo isso usando os processos mais rudimentares como engenho de tração animal, tachos nos fogareiros a lenha e alambique tradicional.
O primeiro evento aconteceu do dia 29 de junho a 05 de julho de 1998 e, evidenciando o resultado financeiro para reforma da casa do museu, esse evento foi feito exatamente na frente da mesma.

Para felicidade de todos, a 1ª Semana da Moagem foi coroada de êxitos e, isso trouxe a ideia de acrescentar os processos da mandioca e da tecelagem artesanal, ficando então marcado para o ano de 1999 a II Semana da Moagem e I da Farinha, com demonstração de tecelagem.

No ano de 1999, além da II Semana da Moagem e I da Farinha, transitava no Ministério da Cultura um projeto que teve parte liberada e veio para a Fundação Museu Couros a verba de R$ 40.000,00, somados mais R$ 4.450,00 de contrapartida da Prefeitura Municipal. O resultado dessa soma foi que o espaço do Museu Couros ficou pronto e a Galeria semi-pronta e, assim, no dia 30 de novembro de 1999 a sede própria do Museu Couros foi inaugurada.

A partir de então, passou a tramitar uma emenda da deputada federal Lúcia Vânia, a pedido do então deputado estadual Tião Caroço especificamente para a conclusão do Teatro da Fundação Museu Couros. 

Entre os dias 17 a 25 de junho de 2000 foi realizada a III Semana da Moagem e II da Farinha, cada vez com maior aceitação, maior público, reconhecimento e, consequentemente, maior arrecadação. Com esse resultado financeiro as atenções voltaram para a Galeria de Artes que, logo após a conclusão, a Fundação convidou todos os artistas de Formosa para uma reunião onde foi organizado um evento coletivo para inaugurar a mesma. Assim, no dia 06 de setembro de 2001 foi inaugurada a Galeria de Artes Olympio Jacintho, onde dezessete artistas expuseram ao todo 32 obras de arte de alto nível.

A IV Semana da Moagem e III da farinha foi realizada entre os dias 16 e 24 de junho de 2001 e, durante esse evento, foi solicitado ao então prefeito Tião Caroço uma área de terreno destinada exclusivamente para esse evento.  

Uma outra ideologia da Fundação Museu Couros de Formosa seria contar a história de nossa cidade de forma descomplicada e descontraída e, em parceria com o desenhista e ilustrador Antônio Aires Rodrigues, no dia 19 de novembro de 2001 foi feito o lançamento do gibi "Solinha", contando o primeiro capítulo da história de Formosa, numa noite de autógrafos.

Em 17 de dezembro de 2001 a Fundação Museu Couros realizou o concurso de Belas Artes "Pinte Formosa" premiando seis trabalhos: três na modalidade Formosa Antiga e três na modalidade Formosa Atual, sendo que nesse dia foi realmente oficializado o nome Olympio Jacintho para nossa Galeria de Artes.

Em 01 de março de 2002, os grandiosos artistas e professores Wilton e sua esposa Adriana reuniram seus alunos fazendo uma grande exposição na galeria, mostrando resultados lindos das paisagens formosenses.

Na V Semana da Moagem e IV da Farinha realizada de 15 a 23 de junho de 2002, graças ao então prefeito Tião Caroço, foi realizado uma parceria onde as portas de Goiânia se abriram para o nosso evento. A Agência Rural, o SEBRAE e a AGETUR deram uma importante contribuição em todos aspectos, ministrando inúmeros cursos e palestras durante todo o evento e, com isso, no dia 21 de junho, durante a abertura oficial do evento, tivemos a presença do então governador do estado de Goiás Alcides Rodrigues.

Com todo o auge, ainda no mês de junho de 2002 o Ministério da Cultura repassou à Prefeitura Municipal de Formosa o valor de R$ 100.000,00 no intuito da conclusão do Teatro. Ao todo foi um montante de R$ 120.000,00 e, após um trabalho dedicado e árduo do engenheiro Dr. Marcus, da MCJ Engenharia, no ano de 2003 passamos a usufruir de todo esse espaço.

A partir de então, com um espaço maior para a realização da Semana da Moagem e da Farinha, a festa foi crescendo cada vez mais, onde a cada ano tomava ares cada vez mais audaciosos. Assim sendo, em 2016 tivemos a última Semana da Moagem e da Farinha e nesse ano a Fundação teve um prejuízo na casa de R$ 500.000,00. Esse prejuízo, juntamente com problemas políticos, fez com que a Fundação Museu Couros de Formosa parasse de promover esse belíssimo evento, além de ter passado por diversos momentos com as portas fechadas, por falta de funcionários.

No ano de 2016, a Fundação recebeu por parte do Ministério Público uma outra doação de R$ 120.000,00 que foi usada na construção do anexo, onde no dia 13 de junho de 2019 foram inauguradas a Reserva Técnica Clarival de Miranda, a Sala de Fotografia Sebastião e professor Edson Spídola e a Sala de Reuniões Dr. Arnoldo Ribeiro da Costa.

A reabertura oficial do museu se deu em 13 de junho de 2019, após a celebração do convênio com o então prefeito Gustavo de Oliveira Marques, através do grande empenho da Secretária de Educação, Cultura e Esporte Sizélia de Abreu juntamente com o Superintendente de Cultura, professor Samuel Lucas.

A ideia é retomar em 2020 a Semana da Moagem e da Farinha, relembrando assim os nossos costumes e cultura antepassados.

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