Inicialmente, cabe lembrar que Planaltina (GO e DF) era parte de Couros (Formosa GO). Aqui, mostraremos algumas particularidades desde a criação do Distrito, seu desmembramento, entre outros.
Segundo versões
correntes, nos primórdios de 1812 já residia no local um armeiro famoso,
cognominado "o Mestre d' Armas", que era procurado por pessoas vindas
de grandes distâncias. Esse foi o núcleo de onde se originou a cidade de
Planaltina. Não se sabe ao certo quando se deu a fundação do povoado; sabe-se,
entretanto, que em 25 de janeiro de 1812 existia um cemitério no local.
Formação Administrativa (IBGE)
Distrito criado com a
denominação de Mestre D'Armas pela Lei ou Resolução Provincial n.º 615, de
02-04-1880, no município de Formosa.
Elevado à categoria de
vila com a denominação de Mestre D'Armas, por Decreto Estadual n.º 52, de
19-03-1891, sendo desmembrado de Formosa. Sede na povoação de Mestre D'Armas.
Constituído do distrito sede. Instalado em 28-02-1892.
Pela Lei n.º 363, de
22-07-1910, o município de Mestre D'Armas passou a denominar-se Altamir.
Em divisão administrativa
referente ao ano de 1911 o município já denominado Altamir é constituído do
distrito sede.
Pela Lei Estadual n.º
541, de 14-06-1917, o município de Altamir passou a denominar-se Planaltina.
Em divisão referente ao
ano de 1933 o município de Planaltina é constituído do distrito sede. Assim
permanecendo em divisão territorial datada de 1-07-1950.
Pela Lei Municipal n.º
113, de 05-12-1958, foram criados os distritos de Córrego Rico e São Gabriel,
ambos ex-povoados, e anexados ao município de Planaltina.
Em divisão territorial
datada de 1-07-1960 o município é constituído de 3 distritos: Planaltina,
Córrego Rico e São Gabriel de Goiás.
Pela Lei Estadual n.º
5.988, de 06-10-1965, o município de Planaltina passou a denominar-se São
Gabriel de Goiás.
Pela Lei Estadual n.º
6.553, de 17-02-1967, o município voltou a denominar-se Planaltina.
Em divisão territorial
datada de 01-01-1979 o município é constituído de 3 distritos: Planaltina,
Córrego Rico e São Gabriel de Goiás. Assim permanecendo em divisão territorial
datada de 2014.
Um fato marcante na história de Planaltina foi a colocação da Pedra Fundamental de Brasília, em 1922. Acompanhe os estudos de Adirson de Vasconcelos
O assentamento da pedra
fundamental da futura capital, no Centenário da Independência, a 7 de setembro
de 1922, bem poderia ter sido — como sugeriu Duque Estrada — o sepultamento
definitivo da ideia, com a colocação de "uma pedra por cima".
O mero relato da
expedição Balduíno, na época, deveria causar no Rio de Janeiro uma péssima
impressão sobre o local escolhido para a futura capital — tantas seriam as
dificuldades encontradas para a realização de uma tarefa aparentemente simples.
Pior do que o relato
dessas dificuldades, só se chegasse ao Rio de Janeiro a notícia de um fracasso
em desempenhá-la na data marcada.
Hoje, esse relato deixa
uma impressão difícil de definir, entre a simples falta de planejamento e a
hipótese mais complicada — mas possível, até provável — de um tropeço bem
planejado e simples, articulado em algum ponto da "cadeia de comando"
do governo.
Assinado o decreto em
janeiro de 1922, somente a 27 de agosto — faltando 10 dias para o Centenário —
o diretor da Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari (MG), foi informado,
por telegrama, de que o ministro da Viação e Obras Públicas o havia encarregado
de erguer um monumento no Retângulo Cruls, a 450 km dali, e inaugurá-lo de
forma solene, exatamente ao meio-dia de 7 de setembro.
O telegrama do
inspetor-geral de Estradas de Ferro, Palhano de Jesus, informava que uma placa
de bronze acabava de ser encomendada, na véspera (!), ao Liceu de Artes e
Ofícios, em São Paulo, que após fazer o molde e fundi-la, deveria enviá-la a
Araguari. Tudo o mais, da construção do monumento até a organização do evento,
ficava por conta do engº Balduíno:
« Faltava-me tempo para
pensar; para agir ainda pouco era o tempo... »
A solução prática e
rápida foi projetar uma pirâmide-obelisco de pedras artificiais, e apenas
montar o conjunto no local. Feitas as fôrmas e vasado o concreto, as “pedras”
ficaram prontas em 31 de agosto.
A ferrovia, porém,
chegava só até Ipameri (GO), 150 km além de Araguari, porém ainda a 300 km do
Retângulo Cruls. Para transportar de Ipameri em diante as pedras (5 toneladas),
cimento, ferramentas, pessoal, comitiva e alimentos para 15 dias, fretou 5
automóveis "Ford Bigode" e 6 caminhões. Esgotada a frota
automobilística de Araguari, outros 4 automóveis tiveram de ser fretados em
cidades vizinhas.
A placa encomendada em
São Paulo chegou às 10h30 da manhã de 1º de setembro. Às 11h, partiu de
Araguari o trem especial com toda a comitiva, as "pedras" de
concreto, cimento, ferramentas, alimentos, e os 15 veículos fretados, chegando
a Ipameri ao anoitecer.
A baldeação da carga dos
vagões para automóveis e caminhões tomou toda a noite e parte da madrugada.
Quase ninguém dormiu. Às 5h da manhã do dia seguinte, 2 de setembro, a caravana
— reforçada por mais 2 "Ford Bigode" — iniciou a segunda parte da
viagem.
Nas primeiras 7 horas
foram percorridos apenas 20 km, com os caminhões estacando a cada momento, nas
grandes rampas que tinham de vencer [Com sorte, talvez a estação das chuvas
ainda não houvesse começado]. No total, no primeiro dia de viagem, das 5h às 21h,
foram vencidos apenas 76 km.
No segundo dia, 3 de
setembro, a caravana avançou mais 84 km até o cair do sol, quando chegou ao
povoado de Cristalina. Segundo as informações locais, a partir dali a estrada
não apresentaria grandes problemas. Balduíno, que vinha à retaguarda, decidiu,
acossado pelo tempo, seguir à frente com os "Ford Bigode", deixando
os caminhões seguirem atrás da caravana. Tarde da noite, chegou ao arraial de
Mestre d'Armas [Planaltina], fixado como referência, e que seria a base dos trabalhos.
O dia 4 foi empregado —
entre outras coisas — a escolher o local para o monumento. O engenheiro visitou
o córrego Acampamento [acampamento da 2ª Missão Cruls; atualmente Parque
Nacional de Brasília] e o Paranoá.
Esses dois locais
delimitavam — a leste e noroeste — a área preferida por Cruls e Glaziou para a
construção da futura capital [e onde, de fato, veio a ser construída]. Mas
estavam a 40 km de sua base de trabalho, o arraial de Mestre d'Armas
[Planaltina], onde àquela altura os caminhões ainda eram esperados. É possível
que essa distância extra tenha pesado na sua decisão, diante da falta de tempo.
Os caminhões chegaram na
manhã do dia 5, e nessa mesma manhã o engº Balduíno escolheu um local bem mais
próximo: um promontório sobre o vale do rio São Bartolomeu, a apenas 8 km de
Mestre d'Armas. Batizou o local de "serra da Independência"; e aos
dois morros ali existentes atribuiu os nomes de "Centenário" e
"7 de Setembro":
« Pois bem, no morro do
Centenário decidi, bem ou mal, na manhã de 5 de setembro, colocar a pedra
básica da futura capital da República. »
Às 17 horas do dia 5,
todo o material dos caminhões já estava descarregado no morro do Centenário. No
dia 7, às 10 horas, estava pronto o monumento que tinha de ser inaugurado
exatamente ao meio-dia — segundo a letra da lei, inscrita em bronze na placa
afixada à face oeste do marco:
« Sendo Presidente da
República o Exmº Sr. Dr. Epitácio da Silva Pessoa, em cumprimento ao disposto
no Decreto 4.494, de 18 de janeiro de 1922, foi aqui colocada em 7 de setembro
de 1922, ao meio-dia, a Pedra Fundamental da futura Capital Federal dos Estados
Unidos do Brasil. »
A descrição do evento e a
lista dos participantes dão a dimensão do outro lado do trabalho necessário ao
engº Balduíno Almeida para cumprir à risca a missão recebida em cima da hora —
a organização do “evento”:
« No momento em que o sol
atravessava o meridiano, ao meio-dia de 7 de setembro de 1922, o engº Balduíno
Ernesto de Almeida, responsável pela missão e representante do governo federal,
começa a içar a Bandeira Nacional ao som do Hino Nacional executado pela
bandinha de Planaltina, acompanhada de marcha batida pelos clarins do 6º
Batalhão de Caçadores aquartelado em Ipameri, perante autoridades [locais] e
representantes, e uma centena de outras pessoas da região que foram ao local,
em cavalhada. » [Adirson Vasconcelos]
Balduíno, diretor da
Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari (MG), representava o presidente da
República, Epitácio Pessoa, por ordem do ministro da Viação, transmitida por
telegrama do inspetor-geral das Estradas de Ferro, Palhano de Jesus.
O segundo orador, Arthur
Povoa, discursou em nome do presidente do Estado de Goiás, coronel Eugênio
Jardim.
Em seguida, falou o
deputado estadual Evangelino Meirelles, representante "3 em 1" do
Congresso estadual (Camara e Senado de Goiás) e do deputado federal Americano
do Brazil, autor do projeto de lei que determinava o lançamento da pedra
fundamental. Este último fez a delegação por telegrama do Rio de Janeiro.
De corpo presente,
discursou apenas o intendente municipal de Formosa, Francisco Hugo Lobo; e
compareceram Salviano Monteiro Guimarães e Nicolau Silva, autoridades em Mestre
d'Armas [Planaltina] e Santa Luzia [Luziânia]; além do juiz de direito Henrique
Itiberê, de Formosa.
A Câmara dos Deputados se
fez representar pelo engº Aldo de Azevedo [possivelmente da Estrada de Ferro
Goiás].
O ministro da Guerra,
Pandiá Calógeras, foi representado pelo major Adelino de Guaycurus Piranema
[possivelmente aquartelado em Ipameri (GO)].
O outro autor do projeto,
deputado federal (pelo Maranhão) Rodrigues Machado, pediu por telegrama que o
jornalista Germires Reis [Zelmires Reis, cf. AH2:27-28], de Santa Luzia
[Luziânia], o representasse na solenidade.
A imprensa do Rio de
Janeiro e de todos os demais Estados foi "representada" unicamente
pelo jornalista Pedroso Pimentel, enviado especial de A Noite, do Rio de
Janeiro. Devido às "dificuldades para a emissão de despachos
telegráficos", só 4 dias mais tarde foi publicada sua primeira matéria.
As imagens foram feitas
pelo « fotógrafo Plínio (que acompanhou o engº Balduíno) ».
A ata do evento solene
foi ditada pelo engº Balduíno e escrita simultaneamente em 3 originais pelo
major Adelino Guaycurus Piranema e pelos engenheiros Alvaro Cardoso de Mello e
Edgard Peixoto Guimarães, auxiliares de Balduíno na Estrada de Ferro Goyaz.
Ao final, foi servida uma
taça de champanhe.
4.;~Ç´ÇRF
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