1926 - Aeroporto "Coronel Muniz" - Formosa GO

No dia 19 de setembro de 1926 desceu em Formosa os dois primeiros aviões. O prefeito Moysés Perotto oficializa através do decreto 37, de 1 de setembro de 1931 a criação do aeroporto de Formosa.

Em 31 de outubro de 1936, através da Lei nº 13, o campo foi batizado com o nome de “Aeroporto Coronel Muniz” na gestão do prefeito Antonio Jonas de Castro.
Segue abaixo a transcrição fiel da Lei:

REGISTRO DA LEI N.º 13, DE 31 DE OUTUBRO DE 1936.

“Denomina “Coronel Muniz”, o campo de aviação.”

Antonio Jonas de Castro, Prefeito Municipal de Formosa, faço saber, que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Artigo Primeiro: O campo de pouso de aviões da Municipalidade de Formosa, criado por decreto n° 37, de 1° de Setembro de 1931, passa a denominar-se “Aeroporto “Coronel Muniz”, em homenagem ao grande brasileiro Ten. Cel. Antonio Guedes Muniz, primeiro fabricante do avião nacional.
§ Único: A denominação supra será inscrita em um pórtico localizado em uma das extremidades do campo e de tamanho suficiente para que possa ser lido a grande distancia.
Artigo Segundo: Fica o poder executivo autorizado a tomar todas as medidas necessárias à execução desta lei - e bem assim - pedir o crédito necessário depois de organizado o respectivo orçamento.
Artigo Terceiro: Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem competir o conhecimento da presente lei, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém.
-Dado e passado nesta.

Secretaria da Prefeitura Municipal de Formosa, aos trinta e um dias do Mês de Outubro de mil novecentos e trinta e seis (31/10/1936).

Antonio Jonas de Castro.
Prefeito Municipal

Publicada nesta secretaria na mesma data supra.

José das Moças Júnior
 Auxiliar do Secretário

Eu, José das Moças Júnior, Auxiliar do secretario, que a registrei.

CORONEL MUNIZ
De acordo com Rachel Motta Cardoso e Ana Carolina N. de O. da S. de Carvalho, ambas do Museu Aeroespacial - Rio de Janeiro, Antônio Guedes Muniz nasceu na cidade de Maceió em 1900. Seu pai, funcionário público, almejava um futuro melhor para os filhos, então migrou com a família para o Rio de Janeiro em 1906, a fim de proporcionar-lhes uma educação de qualidade. 

A família retorna para Alagoas em 1912, mas Muniz é enviado novamente para a capital onde permaneceu interno no Colégio Anglo-Brasileiro até terminar o estudo preparatório. 

No ano de 1918, foi aprovado e matriculado no curso de Engenharia da Escola Politécnica. Entretanto, como não possuía muitos recursos, transferiu-se para a Escola Militar, onde IV Seminário Internacional Cultura Material e Patrimônio de C&T 734 se formaria oficial dentro de três anos na terceira turma de pilotos militares, garantindo assim uma carreira segura. 

Devido ao excelente desempenho no curso de formação, o Aspirante da Arma de Engenharia escolheu servir na Companhia de Aviação desta Arma, que tinha por missão a manutenção do Campo dos Afonsos em Marechal Hermes. 

No decorrer do desempenho de suas atividades na unidade, o então aspirante foi apresentado ao Capitão Villela Júnior, estudioso na área de construções aeronáuticas. Este já havia construído dois aviões bem sucedidos, o “Aribu” e o “Alagoas”, contudo, por falta de apoio, os projetos foram abandonados. Foi a partir do incentivo deste entusiasta da aviação, que Muniz foi impelido ao estudo das ciências aeronáuticas, recebendo, ainda em 1921, o brevê de piloto aviador militar. 

O crescente interesse de Muniz pela aviação, levou o oficial a permanecer todo tempo disponível nas oficinas do Parque Central de Aviação 1, onde eram reparados os aviões acidentados, a fim de aprender acerca das estruturas dos aviões. E foi nesse ambiente que Muniz teve contato com técnicos e oficiais da Missão Militar Francesa, que face ao seu notório entusiasmo, o incentivaram a solicitar ao Governo Brasileiro autorização para instruir-se na Escola de Engenharia Aeronáutica, na França. Sua solicitação data de 1924, contudo seu requerimento foi deferido apenas em 1925. 

Não muito diferente do Capitão Villela Júnior, o então capitão Muniz, também não recebeu incentivo no que se refere à dedicação ao desenvolvimento da engenharia aeronáutica, visto que, mesmo sendo autorizado a embarcar para França, todo o custeio da viagem e do curso seria realizado com recursos próprios. A realização do curso previa, além das aulas teóricas e de visitas às fábricas de aviões, a elaboração de projetos de aeronaves. 

Desta forma, durante todo o decorrer do curso de formação, Muniz apresentou cinco projetos, M-1, M-2, M-3 e M-4, sendo o último, M-5, o único projeto completo e que seria construído (ANDRADE, 1976, p.32). O M-5 era um avião que apresentava características peculiares que o diferiam do que era fabricado na época, tanto na Europa quanto no Brasil. 

O desempenho do então Major Muniz, na realização do curso universitário, tal qual seu sucesso no empreendimento do projeto do M-5 renderam, ao engenheiro, o convite para permanecer na França, a cargo do Governo Brasileiro, para fiscalizar a confecção de uma encomenda de aeronaves para o Exército. A oportunidade, não apenas permitiria a aquisição de experiência prática na área da construção aeronáutica, como possibilitaria que seu projeto se tornasse uma realidade. 

A partir de uma solicitação do General Machado Vieira – chefe da Missão Militar Brasileira na França, o Ministro da Guerra Nestor Sezereno dos Passos, autorizou a execução do projeto. Desta forma, de 1929 a 1930, a construção do M-5 ficou a cargo da Fábrica Caudron (ANDRADE, 1976, p.32), a aeronave passou por todos os testes realizados e recebeu certificação Serviço Técnico da Aeronáutica Francesa. 

Finda a Missão Militar Brasileira na França, em 1931, Muniz regressa ao Brasil, trazendo consigo o M-5 desmontado. Sendo remontado na Escola de Aviação Militar situada no Campo dos Afonsos, onde voou até 1934, quando um acidente danificou seriamente uma de suas asas e o trem de pouso (ANDRADE, 1976, p.33)

Em 1933, o então Tenente Coronel Muniz foi designado para a direção do Núcleo do Serviço Técnico de Aviação, criado devido à necessidade de um órgão credenciado a desenvolver projetos de aviões e decidir sobre sua construção. Para tanto, selecionou engenheiros, técnicos, projetistas, entre outros profissionais, e firmou parceria com o industrial Henrique Lage. 

O M-7, um biplano clássico, foi projetado por Muniz, em 1935, com o intuito de tornar-se um avião de treinamento. O projeto e sua respectiva maquete foram enviados à França, para verificação e testes. Uma vez aprovados, o protótipo foi construído no Parque Central de Aviação. 

No que se refere aos avanços tecnológicos, o M-7 possui uma característica inovadora; sua fuselagem era de aço soldado. No período em que permaneceu na Escola de Engenharia Aeronáutica, a indústria aeronáutica francesa não utilizava esse recurso, pois alegava que na ausência de bons soldadores, o avião com essa estrutura não apresentaria condições de voo. Contudo, a chegada do piloto norte-americano Charles Lindbergh a Paris, após a travessia do Atlântico, revolucionou esta concepção. Quando os técnicos franceses retiraram a tela para a inspeção do avião verificaram que sua fuselagem era de aço soldado. A partir do episódio, os alunos do curso, dentre eles Muniz, solicitaram o curso de solda a oxigênio, e tornaram-se peritos na técnica. Um avião projetado com fuselagem em tubos de aço torna seu custo de produção mais barato, mais rápido e mais simples de ser construído. Sendo esta, portanto, mais uma característica que viabilizou a produção em série do M-7. 

O M-7 realizou seu primeiro voo no dia 17 de outubro de 1935, no Campo dos Afonsos. Devido ao seu desempenho satisfatório, o avião foi homologado, seguindo o projeto para a produção em série na Fábrica Brasileira de Aviões, recém-criada por Henrique Lage, com a assessoria do Tenente Coronel Muniz. 

A Escola de Aviação Militar, que funcionava no Campo dos Afonsos, utilizou 11 aviões Muniz M-7, de um total de 27 produzidos (26 exemplares e 1 protótipo) de 1937 a 1941 (ANDRADE, 1976, p.35-36), ficando os outros 16 nos aeroclubes para o treinamento de pilotos até o final da década de 50. 

Além de alavancar o desenvolvimento da indústria aeronáutica no Brasil, o Muniz M-7 possibilitou o treinamento de pilotos civis e militares, visto que, naquela época, o país apresentava uma carência significativa de aviões e pilotos. 

A aeronave foi também a primeira a ser adaptada para pulverização de lavouras no Rio Grande do Sul, ainda em 1947, possibilitando o aprimoramento de técnicas de combate a pragas e a expansão agrícola. 

Coronel Muniz faleceu em 28 de junho de 1985.


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