Assaltantes em fuga matam e morrem na BR-020

Por Correio Braziliense

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Correio Braziliense
Brasília, sábado, 6 de dezembro de 2003 - página 29

TRÂNSITO
Quatro assaltantes em fuga batem de frente com carro de Lucila Saad Batista, uma das profissionais mais respeitadas do DF, ao atravessarem a BR-020. Ninguém sobreviveu

Paisagista morre em acidente

LARISSA MEIRA - Equipe do Correio

Lucila Saad Batista, de 38 anos, uma das principais paisagistas do Distrito Federal, morreu na madrugada de ontem em um grave acidente de trânsito na BR-020, que provocou a morte de outras quatro pessoas. Diretora da Escola de Paisagismo de Brasília, a professora ia da Asa Norte para Formosa (GO), onde mora, quando bateu de frente com um carro no quilômetro 27 da rodovia. No outro automóvel, um Monza, estavam quatro homens apontados pela polícia como integrantes de uma quadrilha de roubo de gado. Eles teriam atravessado a pista, vindo de uma estrada de terra, e se chocado com o Meriva da paisagista.

O acidente ocorreu pouco depois da meia-noite, perto de Planaltina. Segundo a polícia, os quatro homens que estavam no Monza placa JDQ-7617 (DF) tinham assaltado uma fazenda na região e fugiam por uma estrada de terra, com uma vaca esquartejada no porta-malas. Quando entraram na BR-020, bateram no Meriva placa JGI-4610 (DF) de lucila. "Como estavam em fuca, o mais provável é que estivessem com os faróis apagados, pois não havia sinal de frenagem na pista. Se a moça tivesse visto luz, teria freado ou desviado", acredita o delegado Gilberto Alves Ribeiro, titular da 16ª DP (Planaltina).
Lucila voltava da casa de uma amiga, na Asa Norte. Como trabalhava no Plano Piloto, ela costumava dormir em Brasília algumas vezes por semana. Na noite de quinta-feira, entretanto, a paisagista resolveu voltar para casa para passar a noite com o marido, o engenheiro agrônomo José César Utida da Fonseca, 39 anos. A amiga de Lucila, Denise Messias, 36 anos, contou que tudo estava pronto para que a professora ficasse em Brasília. "A gente se encontrou para jantar, por causa do aniversário dela. A cama estava pronta para ela dormir na minha casa, mas a Lucila conversou com o César e resolveu ir. Isso era normal na rotina dela", disse Denise.

Descrita por familiares e amigos como uma mulher determinada, Lucila tinha completado 38 anos na quarta-feira. A festa de aniversário seria amanhã. Animada com trabalho na escola de paisagismo, no Centro de Excelência da Universidade de Brasília (UnB), ela lutava pela regulamentação da profissão. Também fazia planos para ter o primeiro filho. José César, casado com a paisagista há oito anos, soube do acidente depois de várias tentativas frustradas de falar com a mulher pelo celular. "Fiquei preocupado porque chamava até desligar. Quando atenderam, era um policial me avisando que ela estava morta", contou, emocionado.

Planos

Há pouco tempo, Lucila tinha começado a planejar o primeiro filho com o marido José César. Os dois fizeram exames para saber se poderiam ter um bebê. "Eu passei no teste. Ela estava eufórica com a idéia", lembrou César. A morte precoce da paisagista, nascida em Formosa, abalou parentes e amigos. "Ela era forte e inteligente, não se deixava abater diante de problemas", descreveu a irmã Carla Batista, de 42 anos. "Minha mãe está muito abalada, ela sempre dizia que a Lucila era a filha que tinha o jeito mais parecido com o dela", acrescentou.

Colegas, amigos e familiares se reuniram no estacionamento do Pólo Verde, perto do Balão do Torto, para homenagear Lucila antes de seguir para o velório, em Formosa. Em conversas reservadas, a paisagista revelou que não gostava de enterros. Preferia virar cinzas quando morresse. O desejo será atendido. Lucila Saad Batista será cremada hoje de manhã, Valparaíso.

Na homenagem, colegas ressaltaram a capacidade profissional e a afetividade da paisagista. "Almocei outro dia com Lucila, que adorava cozinhar e era uma anfitriã maravilhosa", revelou o locutor Airton Medeiros, 54 anos. Ela era a mãe da história do paisagismo no DF", resumiu a diretora do Jardim Botânico de Brasília, Ana Júlia Sales.

Quadrilha era investigada

Os quatro homens no Monza que bateu de frente com o carro da paisagista Lucila Saad Batista eram investigados desde o começo do ano por roubos em fazendas na região que vai de Planaltina ao município goiano de São João D'Aliança. Três deles foram identificados: Wilson Texeira de Araújo, 42 anos, Miron José Torres, 37, e Jildemar Maia de Amorim, 38. A polícia ainda não sabe de qual propriedade o grupo roubou a vaca que estava no porta-malas do carro na hora do acidente.

A investigação da polícia indica que a quadrilha atuava sempre de madrugada. Durante o dia, eles apenas amarravam o gado, no máximo três animais de cada vez. Os bandidos voltavam de noite para matar os animais e geralmente, cortavam a cabeça, deixavam no local, e esquartejavam o gado. A polícia acredita que os integrantes da quadrilha moravam nas proximidades de Formosa. No Monza acidentado, foram encontrados um revólver calibre 38, duas marretas, dois facões, um machado e três telefones celulares. 

Wilson Texeira e Miron José tinham passagem pela 16ª DP (Planaltina), por suspeita de envolvimento com assaltos a fazendas na região. "Às vezes, como levavam somente uma vaca, os fazendeiros não sentiam falta e a ocorrência não era registrada", disse o delegado-cheve da 11ª DP, Gilberto Alves Ribeiro. Ele afirma que o tipo de crime é comum na área. 

Segundo o delegado, a média de furtos de gado na região é de quatro casos por mês. Há poucos mais de 30 dias, agentes da delegacia recuperaram 28 cabeças de gado furtadas em um caminhão que fazia frete para Planaltina. "Geralmente, as quadrilhas repassam a carne para frigoríficos ou vendem informalmente", detalhou Ribeiro. O delegado acredita que as ações de bandidos serão reduzidas com o projeto de construção de postos do Centro da Secretaria de Segurança Pública (Ciosp) em áreas rurais. A proposta ainda não tem prazo para implantação. (L.M.)

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