1953-2010 - Helena de Sousa Santos


Helena de Sousa Santos nasceu em 24 de abril de 1.953, na cidade de Posse Goiás, registrada como filha de Durvalina de Sousa Santos e Geraldo Pereira dos Santos.

Helena, filha de família pobre, estudou até a terceira série e precisou de começar a trabalhar para ajudar os tios (que criou como pais). Ainda criança, Helena não teve o prazer de conhecer a própria mãe, por motivos não citados para essa história. Mesmo sem estudos, ela sabia escrever o nome e fazia contas perfeitamente. Tudo o que ela não teve de oportunidades na vida buscou proporcionar aos seus filhos.

Em 1.969 mudou-se para Brasília, onde exercia serviços domésticos. Nesse mesmo ano casou-se com Pedro Dias dos Santos com quem teve três filhos: Emivaldo, Marinalva e Genivaldo. Este casamento durou por uns 15 anos, vindo a separação mais tarde.

Trabalhava como diarista de domingo a domingo, conseguindo assim juntar algum dinheiro para mudar-se para Formosa, trazendo consigo sua mãe e seus irmãos Eva, Adão, Leus e Deusa. Assim, em 1.975 instalou-se em nossa cidade, morando na "Vila Beneditina" (atualmente Bairro São Benedito) e sendo uma das pioneiras desse lugar.

Começou a trabalhar pelo bairro que era desprovido de energia, água encanada e inclusive urbanização, conseguindo vários desses recursos. Para atender as necessidades dos primeiros moradores, abriu um mercado na Vila, na Rua 10, esquina com a Rua 5, chamada Mercearia Souza.

Mais tarde, o mercado foi transformado em bar e danceteria, onde nas noites de fim de semana a comunidade local podia ter acesso a diversão e lazer. Dentro da Exposição Agropecuária, Dona Helena era responsável por uma danceteria onde atendia as mais diversas classes sociais, conhecida como "Forrozão da Helena".

Dona Helena que sempre trabalhou por seu bairro na área comercial era patrocinadora do time de futebol da Vila, incentivando o esporte com patrocínio e participação dos seus familiares.

Em meados de 1.985 casou-se com Jaime Parolin Hermel, com quem teve mais dois filhos: Patrícia e João Paulo. Após seu casamento com Jaime, iniciou a atividade de "Bóia Fria" no bairro, ajudando os moradores que não encontravam emprego na cidade.

O espírito empreendedor de dona Helena fez com que ela novamente voltasse para o ramo comercial abrindo a primeira sorveteria na Vila.

Por ser um bairro distante e desprovido de recursos financeiros, existiam muitas restrições na prestação de serviços, inclusive no meio de transportes particulares, isso fez com que dona Helena mais uma vez inovasse e inaugurasse o primeiro serviço de moto táxi do bairro. Eram os motoqueiros de colete azul... The Flash...

Mais uma vez pensando na necessidade dos moradores que se deslocavam até o centro da cidade a procura de restaurantes e entrega de comida, dona Helena abriu um restaurante que a noite funcionava como lanchonete. No período da pecuária, ela fechava e mudava completamente para a pecuária, onde funcionava 24 horas, sendo que de manhã servia o café da manhã, servindo almoço, a tarde e a noite lanche e, sem deixar a tradição do "Forrozão".

Uma das últimas alegrias de dona Helena foi ver sua filha, Patrícia dos Santos Hermel, graduando-se em Direito, que apesar de todos os preconceitos sofridos ao longo da vida, conseguiu seu diploma de curso superior. De acordo com ela, "até hoje existe muito preconceito, pelo simples fato de morar na Vila..."

Em 14 de setembro 2.008 ela sofreu um primeiro infarto, e assim ela vinha tratando do coração, mas sua extrema energia era difícil de ser controlada. Nesse mesmo dia a Patricia, grávida do seu primeiro filho, estava fazendo uma prova em Planaltina e ela vê que foi a principal oportunidade dada por Deus pois, nos próximos dois anos que Helena teve de vida, ensinou-a como ser mãe, como transmitir amor ao filho e viver a realidade matriarcal.

Em 25 de outubro de 2.010, dona Helena não mais acordou cedo como em todos os dias para ir trabalhar. Aos 57 anos dormiu como todas as noites após um longo dia de trabalho e durante a madrugada sofreu um infarto silencioso.


Deixou como legado para seus filhos e netos a vontade de trabalhar, a dignidade e o respeito. Lutou para fazer de seu bairro um lugar melhor para se viver. Comemorou junto com a comunidade cada poste de iluminação, cada residência que passou a receber água encanada, cada construção e inauguração de escolas, praças e principalmente o asfalto, muito esperado por todos os moradores.

Dona Helena, embora com poucos recursos, buscou empreender e melhorar a qualidade de vida da sua família e dos moradores do seu bairro e nunca abrindo mão de ajudar os necessitados. Fazia tudo o que podia para servir comida aos famintos e empregar os desprovidos de emprego.

O Talmud diz que "aquele que ganha uma vida ganha o mundo inteiro" e, mesmo que ela possa ter passado despercebida por aqueles que nasceram e cresceram em berço de ouro, ela nunca passou despercebida àqueles que humildemente tiveram que viver na antiga Vila Beneditina. Ela soube o valor de pedir água encanada e energia elétrica, pois também tomou banho com água esquentada no fogão a lenha.

Os moradores mais antigos sentem falta e recordam de dona Helena com carinho, lembrando da primeira TV do bairro que precisava ter a bateria carregada durante o dia para ser usada à noite. Vários casais e famílias residentes no bairro se emocionam ao falar como se conheceram e que tudo começou em suas danceterias.

Ela pode não ter feito muito, pois suas condições eram poucas, mas dentro da sua condição, buscou levar um pouco de dignidade e humanismo às famílias marginalizadas que, assim como ela, sofriam pelo preconceito de uma sociedade burguesa que, mesmo sem conhecimento, acreditavam que os moradores da "Vila" não passavam de seres sem vulto ou sem obras.

Como sempre trabalhou fora, sofria por não ter um local apropriado, nem uma pessoa que cuidasse de seus filhos. Essa é a realidade que muitas mulheres ainda enfrentam nos dias de hoje quando precisam sair para trabalha. Dona Helena é o retrato de uma mulher simples e trabalhadora, que nunca deixou de ir à luta. Mais do que merecido, o nome dela estampa os murais de uma creche, onde mães lutadoras como ela podem usufruir de um espaço para deixar os seus filhos e, mais uma vez, a filosofia de vida de dona Helena entra, pois mesmo após sua morte, procura dar aos outros aquilo que ela nunca teve que, nesse caso, é um local ideal para os filhos das mães que lutam arduamente pela própria sobrevivência.

Em 07 de dezembro de 2.012, através da Lei 635/12, o então prefeito Pedro Ivo de Campos Faria designou a creche do Parque Lago de Formosa como CMEI Helena de Sousa Santos. 

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